terça-feira, setembro 28, 2004

Eles

Ela

– Amor, fui ao shopping e comprei um monte de roupas lindas!
– É?
– É! Entrei na Zara e vi uma saia linda com um ótimo preço: R$100,00. Olha como ela é linda.
– Uhum – olhadela de canto de olho com um leve consentir de cabeça.
– Depois fui na Totem e achei um cinto ma-ra-vi-lho-so por apenas R$50,00. Praticamente dado! Olha que lindeza.
– Uhum – olhadela de canto de olho com um leve consentir de cabeça.
– Amor, você ta olhando as roupas que eu comprei?
– Claro, minha paixão.
– E porque você não fala nada, não comenta sobre nenhuma delas?
– Estou falando “Uhum”!
– E o que isso significa?
– “Sim”, ora bolas!
– “Sim” o quê?
– “Sim”, “Sim”!
– Você não está nem aí pras minha roupas! Não quer nem saber das compras que eu fiz. Aposto que não estava nem ouvindo o que eu estava falando!
– Escutei tudo meu amor! Você comprou essa saia naquela loja com Z e aquele cinto é ma-ra-vi-lho-so.
– É? Você estava escutando mesmo?
– Claro que sim. Eu te amo!
– Ah, então tá! Olha, esses sapatos eu comprei na Mr.Cat por quase R$130,00. Na outra loja era um absurdo de caro: quase 200 reais!
– Uhum – olhadela de canto de olho com um leve consentir de cabeça.


Ele

– Amor, fui ao shopping e comprei um monte de roupas lindas!
– É?
– Blá-blá-Z-blá R$100,00 blá-blá-blá.
– Uhum – Puta que pariu! O que foi cem reais? Espero que não tenha sido nada demais. Merda! Devia ter prestado atenção pra poder reclamar.
– Blá-blá-cinto-blá R$50,00 blá-blá-ma-ra-vi-lho-so-blá.
– Uhum – Caralho! 50 reais num cinto merda desses!!! Não acredito! Onde que ela ta achando essas porcarias caras a beça!?
– Amor, você ta olhando as roupas que eu comprei?
– Claro minha paixão – Estou ouvindo toda essa loucura que você fez de gastar essa grana preta numas roupas horríveis.

...

– Claro que sim. Eu te amo!
– Ah, então tá! Olha, blá-blá-blá R$130,00 blá-blá-blá R$200,00 blá-blá-blá.
– Uhum – Cento e trinta!? Duzentos!!!??? O que essa mulher pensa que ta fazendo!?

terça-feira, setembro 21, 2004

Bukowski fazendo efeito

– Você está olhando pros meus peitos!?
– Bom, pra falar a verdade... Sim, eu estou olhando pros seus peitos.

...


– Olha, eu achei muito inconveniente da sua parte o que você fez.
– Como assim?
– Eu achei muito rude da sua parte o modo como você falou comigo.
– Você achou rude!?
– Claro que sim.
Você estava olhando pros meus peitos e fui eu que fui rude!?
– Sim. Fiquei muito desconfortável com sua atitude.
– Você ficou desconfortável. Você ficou desconfortável? Você ficou desconfortável!?
– Sim. O que há de estranho nisso? É claro que fiquei desconfortável. Eu estava aqui quieto no meu canto, olhando pros seus peitos. Eu não esperava que você fosse me questionar. Isso não se faz.
– Isso não se faz? Quer dizer que eu não devo fazer nada quando alguém estiver olhando pros meus peitos?
– Exatamente. Questionar, ainda mais da forma como você fez, é algo muito inconveniente de se fazer. Isso tende a deixar a pessoa que está admirando seus peitos numa situação desconfortável.
– E eu!? Não lhe passa pela mente que talvez eu esteja desconfortável com a situação?
– Não. Por que deveria?
– Você estava olhando diretamente para os meus peitos. Não chegou nem a disfarçar...
– Eu sei. Não consigo ser muito discreto.
– ...e ainda vem achar estranho eu ficar desconfortável?
– Sim, claro. Por que você estaria desconfortável?
– Porque você estava olhando pros meus peitos!
– Sim, e daí?
– E daí? E DAÍ!?
– Ai. Daqui a pouco você vai me dizer que não era pra olhar?
– CLARO QUE NÃO ERA PRA OLHAR!
– Então por que você está usando um decote como esse? Não me parece que você está tentando esconder muita coisa. Seja pelo menos educada e não seja rude com quem ficar a olhá-los.

domingo, setembro 12, 2004

Mãe que não reclama não é feliz

Findo o almoço, vem aquele desagradável chamado para os trabalhos: "Filho, tire a mesa, tá?". Disfarçado por um ponto de interrogação numa pergunta, a ordem soa incômoda reverberando dentro dos ouvidos.

Não é a melhor parte do fim de semana, mas é algo que precisa ser feito por alguém e esse alguém sou eu. Tirar a louça e colocar na máquina é um trabalho braçal chato, mas não irritante. Assim como guardar a comida na geladeira (mesmo que às vezes isso signifique brincar de Tetris com os potinhos de comida).

O problema maior é a batalha que se trava entre um serviço e outro: o momento de passar o papel-filme sobre a tigela grande de macarrão. Não sei quem inventou esse aparato, mas definitivamente era um sádico filha-da-puta!

Fico sempre pensando, enquanto vou arrumando tudo que posso para postergar a fatídica tarefa, que este era para ser um utilitário para facilitar a vida da dona-de-casa. Mas acaba sendo uma enorme fonte de frustração e irritação!

Quanto mais eu olho para aquela porcaria pendurada na parede, mais minha ira se inflama! O que não ajuda muito, pois no momento em que vou utilizá-lo já estou estupidamente puto quando deveria estar com uma calma de Buda!

Sim, é preciso
muito momento nesta paciência. Mas eu já mandei a calma tomar no cú (com acento, por favor) há muito tempo!!!

Puxo a merdinha de seu apoio na parede mas ela não vem. Claro que não! Tem que dificultar as coisas, não é!? Tiro-a de dentro do puxador e começo a desenrolá-la na mão mesmo.

Aí chega o momento crítico: tenho que ser extremamente rápido e hábil o suficiente para cortar o que eu quero e colocar sobre a tigela de macarrão. Sem dobrar! Não pode dobrar de modo algum! Por favor Deus, permita que não dobre!!!

FUCKNTHOUSANDSUNOFABICTH, PUTAQUEPARIUCARALHOPORRA, PIRUCARECAEBUCETACABELUDA!

Começo a desenrolar mais uma vez. A ansiedade para pôr fim logo à tarefa deixa minhas mãos trêmulas. Situação problemática - não pode dobrar. Não de novo. Não sei se vou suportar se dobrar de novo.

A pressão é muito grande! A faca que acaba de separar o pedaço do rolo é jogada para qualquer lado, fincando-se com um estalido na porta; o rolo cai e sai girando e deixando uma trilha de papel filme desenrolado que atravessa o chão da cozinha; duas mãos trêmulas agarram os dois extremos da folha e suavemente deposita-a sobre a tigela.

Trabalho realizado! É claro que um pedaço ficou dobrado, mas aí você ignora e deixa assim mesmo na geladeira (depois de mais uma seção de Tetris). Afinal de contas, sua mãe precisa de alguma coisa para reclamar. Mãe que não reclama não é feliz.

quarta-feira, setembro 08, 2004

A esperança é a última que morre

Sabe, eu fico extremamente feliz quando vou ao cinema. Percebo que a humanidade ainda tem chances, que o mundo não é um lugar tão sombrio quanto eu penso e que há ainda esperança no coração das pessoas.

Podem me chamar de inocente e ingênuo, mas eu acho muito significativo um ato que continuamente eu vejo quando o filme está a poucos minutos de começar.

Eu sempre chego no cinema com, no mínimo, uma hora do início do filme. Isso é para poder entrar numa fila fenomenal e garantir um lugar ao lado da minha namorada não muito colado de cara na tela do cinema.

Com isso, acabo entrando quase meia hora antes de começar a sessão e fico sentado, esperando e observando enquanto as pessoas vão chegando e se acomodando. Por volta de 10 minutos antes do filme, praticamente para de chegar pessoas, estão todos mais ou menos acomodados e tudo que há pra fazer é curtir a música de elevador tocando ao fundo.

Mas então acontece! Quando o filme já está pra começar (mais ou menos dois minutos antes do início) eu os vejo: entra um casal. Esperançosamente eles olham para os lugares mais altos dos assentos tentando encontrar aquele espaço maravilhoso, esquecido por todos e à espera dos dois.

É neste instante que eu percebo que a esperança é realmente a última que morre. Lágrimas escorrem nos meus olhos de emoção ao vê-los irem de fileira em fileira, da última para frente, perguntando “Tem alguém aqui nestes lugares? Ah, foi ao banheiro...”, até chegarem nos assentos para paraplégicos no andar de baixo, estupidamente colados na tela do cinema.

A esperança e perseverança humana são coisas que me deixam espantado e feliz de reconhecer. Eu gostaria de ser tão idealistas quanto esses casais. Mais infelizmente o lado negro da força é grande em mim e o ceticismo venceu – eu chego, sempre cheguei e sempre chegarei antes ao cinema só pra garantir meu lugarzinho no fundo, mesmo ao custo de uma hora de ócio.

Mas acredito que não podemos ser todos assim, tão cínicos e descrentes. Por isso eu dou a maior força pra pessoas como esses casaizinhos.

VAMOS! Vocês conseguem! Não desistam! Na próxima vez vocês vão ser presenteados com um belo e lindo lugar com as costas tocando na parede de fundo da sala.

Ass.: Pedrin – porque cinismo demais é pouco...

sexta-feira, setembro 03, 2004

Como pode?

Lembra quando você era pequeno e tirava um dia de suas férias para visitar o trabalho de seus pais? Conhecia todo mundo, tinha sua bochecha apertada até só sobrar carne viva e almoçava no bandejão da empresa que você achava o máximo!

Para não destoar do ambiente, pedia uma folha de papel e passava o dia inteiro desenhando alguma coisa, mas sempre com uma cara de compenetrado, de quem está muito ocupado e está fazendo algo de muito importante.

De vez em quando seus pais lhe pediam para fazer algo para eles: “Filhinho, quer ajudar o papai no trabalho? Vai lá no estoque e conta quantos livros vermelhos tem lá.”, “Meu filho, ajude sua mãe e peça ao Tio Soares um PEDIDO-DE-SUBTRAÇÃO-DE-UNIFORMES, por favor.”, “Meu anjo, leve essa pasta lá no segundo andar, lembra? Aquele em que você ficou brincando com a calculadora da moça.”.

Lembra quando você brincava de ser adulto? Vestia a gravata do pai, as meninas colocavam os sapatos e maquiagens da mãe, lembra? Ficava ótimo, muito bonito e de vez em quando até caia bem em você, mas era falso. Você sabia disso, seus pais sabiam disso e quem mais olhasse também saberia.

Pois é. Acho que não cresci. No meu estágio faço trabalhos, em sua maioria, de um nível de dificuldade não muito diferente do que daqueles trabalhos que fazia “para ajudar a mamãe”. Continuo fingindo-me de ocupado enquanto na verdade estou lendo um blog ou vendo meu orkut.

Visto-me como gente grande, mas me sinto como criança. Minhas roupas parecem maiores que eu, fico desengonçado dentro delas. Fico vendo os outros estagiários, parecem todos tão adultos. Imagino quantos anos eles devem ter: 28, 29, 30 provavelmente. Mas quando lhes pergunto todos respondem 23, 24, 25.

Como pode ser então que eles na minha idade já são adultos e eu ainda sou criança? E pior: como pode ninguém perceber que eu sou apenas uma criança, brincando de ser adulto, com roupas de gente grande que não são minhas, fazendo cara de muito ocupado enquanto escrevo um post ou leio meus ê-malas?

quarta-feira, setembro 01, 2004

Rapidinhas

- Nova política da casa: “Só vou gostar de quem gosta de mim.” (Filosofia RobertoCarliana);

- Quero estagiar num local onde eu possa me vestir como quiser e ainda chegue alguém e me diga “I really like your sense of fashion!”;

- O que é estágio senão brincar de ser gente grande?

- O que é a desilusão de perceber que a brincadeira não tem mais graça?

E, como não tenho nada de bom para escrever aqui nesta budega saltitante, vou invadir o blog do Firula e divagar sozinho.